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“A América portuguesa, em grande medida nasceu de uma transposição feudal” diz o medievalista Marcus

O historiador e Prof. Marcus Baccega (UFMA), contou que estuda a alguns anos o mito arturiano na sua versão alemã, o documento sobre o qual mais se deteve foi a demanda do Santo Graal na versão alemã sendo que existem três do final do século XIII, a portuguesa sendo a mais volumosa delas e há uma francesa também. O historiador considera que há elementos ali que ainda podem esclarecer processos sociais de longa duração que ainda geram efeitos no presente, então essa noção do imaginário sacramental que em parte se projeta enquanto representação ou conjunto de representações sobre a própria América portuguesa, em grande medida nasceu de uma transposição feudal. Ela não nasce moderna exatamente como nasce a América inglesa, por exemplo, ela nasce de uma herança medieval profunda que nós temos a felicidade de manter viva no Nordeste do Brasil, sobretudo em locais como o Maranhão e que o mito, por exemplo, o Sebastiânico que é uma atualização histórica do mito arturiano ainda é tão vivo, sobretudo na Ilha dos Lençóis.


Foto: Reprodução/Facebook


O medievalista ainda nos contou um pouco da sua perspectiva em relação ao ensino de História Antiga e Medieval na academia. Ele nos diz que há uma concepção equivocada de muitos colegas historiadores de que não seria importante ou seria menos relevante se comparado a historia do Brasil ou se comparado a historia moderna já que dogmaticamente até as pessoas pensam a Colônia numa inserção moderna, uma inserção que ela não tem direito. Então se esquecem de que há uma temporalidade do século XVI em que o moderno e o medieval convivem intensamente na Europa e na América Colonial e na realidade o Brasil não pode ser compreendido sem uma gramática que articule com a totalidade do movimento histórico. O Brasil não foi colonizado por pessoas que brotaram do chão então não compreender a historia medieval, sobretudo o processo colonial, o Brasil não compreender heranças que ainda permanecem tão vivas entre muitas das quais inclusive negativas, ou seja, um comportamento aristocrático senhorial em várias das nossas oligarquias, de ser explicado pelo intuito de mobilização que traz muitos colonos para a América portuguesa e constitui-se uma aristocracia da terra em parte nobilitada pelo Antigo Regime e em parte não é.


Marcus Baccega é doutor em História Medieval pela Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Pesquisador na área de História Medieval, com ênfase no imaginário centromedieval, focando-se sua atual linha de pesquisa no mito arturiano alemão da Idade Média Central. Opera com os conceitos advindos da Escola dos Annales, sobretudo o imaginário e a mentalidade, além das noções de sistema social e semiologia medieval. Do ponto de vista teórico-metodológico, interessa-se pelo diálogo entre os pensamentos de Karl Marx e Max Weber, bem como seus desdobramentos em autores provenientes do campo marxista, com destaque para Antonio Gramsci.


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